CEDH organiza o Evento “Corpo, Banheiro e Educação” junto com o Projeto de Extensão "Juventudes e Funk"
No dia 26 de setembro de 2018, na unidade Silva Jardim da UNIFESP Baixada Santista, o evento “Corpos, Banheiro e Educação”, coordenado pela profª Cristiane Gonçalves, organizado pelo grupo de extensão Juventudes e Funk em parceria com o Centro de Educação em Direitos Humanos (CEDH), compunha a contribuição da Universidade para a programação da 7ª Semana da Diversidade Sexual de Santos - na qual, destacadamente, foi realizada a 1ª parada do orgulho LGBTQI+ do município. Um dia antes, coincidentemente, os mesmos atores que compuseram este evento estiveram na reitoria da UNIFESP, no campus São Paulo, para participar do “3º Fórum LGBTQI+ da Unifesp: para além dos binarismos”, onde diferentes segmentos da comunidade acadêmica encontraram-se para que fossem apresentadas e discutidas propostas de encaminhamento para situações relativas à desigualdade sexual e de gênero, suas expressões, manifestações e implicações nas condições de ingresso e permanência dos estudantes na universidade.
Do mesmo modo, o título do evento decorreu de demandas emergentes no interior do campus Baixada Santista da UNIFESP: Pouco tempo atrás, estudantes da instituição haviam, anonimamente, se oposto à utilização dos banheiros “convencionais” por outrxs estudantes transexuais/travestis/”gênero-dissidentes”, afirmando se tratar de supostos oportunismos ou representar, se não propiciar, supostas violações por parte destes últimos. Neste sentido buscou-se elaborar ações que trouxessem à tona problemas relativos à produção discursiva de corpos e subjetividades nos termos “do gênero” e “da sexualidade”, bem como a importância destas formulações na tentativa de promover movimentos de descolonização de saberes e práticas implicantes no modo como vivemos e nos relacionamos.
Foi então realizada uma roda de conversa no saguão central do edifício de nossa unidade, bem como foi instalada uma interferência no saguão lateral. A profª Cristiane, ao lado dos professores Vinicius Terra e Carolina Carvalho e dos estudantes Virgínia Guitzel e Bruno Henrique Rocha, inaugurou a roda de conversa enquanto Layane Lara, Luana Assumpção e Vanessa Paixão instalavam a interferência, que consistia num banheiro improvisado, com vaso sanitário e lavatório reais. Na superfície do vaso sanitário encontrava-se os dizeres “Isto não é uma privada.”: é que em seu interior colocou-se um dispositivo de áudio que reproduzia músicas, documentários, palestras e outros materiais previamente selecionados, relacionados à temática do evento, de modo que seria preciso dispor a cabeça sobre ele para ouvir o conteúdo; seria preciso tratar aquele vaso como não sendo um vaso sanitário. Na pia ao seu lado, cerca de 250 fotos misturadas e outros dizeres: “É preciso mexer no vômito para saber o que está sendo (in)gerido.” A ideia era, a partir das fotos, todas distintas umas das outras, de cuja maioria eram retratos de pessoas, conhecidas popularmente ou não, mas que também incluíam símbolos comumente utilizados ou representações/significados frequentemente presentes nos enunciados generificados/sexuados/sexualizados, expressar a multiplicidade de possibilidades de exercício do corpo e de constituição da subjetividade, os paradoxos e contradições dos movimentos de identificação e segmentarização destas multiplicidades e os limites dos discursos que universalizam determinadas regularidades a partir do expurgo da diferença inerente à vida - como, por exemplo, e aqui principalmente, o discurso dos “bonequinhos” das portas dos banheiros. De que maneira as percepções daqueles sujeitos que eventualmente confrontaram-se com as fotos sobre elas mesmas poderiam tratar-se de produção? De que maneira poderiam aqueles sujeitos terem criado - ainda que no ato de nomear ou dizer do que se tratavam - aquelas fotos a partir de determinada “digestão” daquela realidade, de determinadas regularidades postas para a apreensão das possibilidades ali expressadas? De que maneira também aquelas possibilidades não se produziam mediante justamente distintas regularidades geridas, gestadas em espaços comuns?
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